25 novembro 2011

Web 3.0 e a democratização da criação: uma nova educação para um novo capitalismo?

"A nossa política educacional baseia-se em duas enormes falácias. A primeira é a que considera o intelecto como uma caixa habitada por ideias autónomas, cujos números podem aumentar-se pelo simples processo de abrir a tampa da caixa e introduzir-lhes novas ideias. A segunda falácia, é que, todas as mentes são semelhantes e podem lucrar como o mesmo sistema de ensino." - Aldous Huxley, in "Sobre a Democracia e Outros Estudos" 

Ao invés de comprar um LP, uma fita, um CD, DVD, ou mesmo um Blu-Ray, é mais fácil baixar a música ou o filme direto da página da banda ou do filme. Ao invés de procurar um professor particular de francês aqui no Rio, eu posso ter aulas pelo Skype com um professor que mora em Paris. Posso também aprender a fazer comida italiana com um alemão que mora na China. Pela internet, posso comprar produtos ou serviços diretamente de quem cria e faz - um artesanato, um quadro, um livro... 

Esse encurtamento do caminho entre quem faz e quem consome tende a se intensificar. Os atravessadores estão desaparecendo já que os meios de produção e o caminho aos clientes estão sendo democratizados pela tecnologia. As maiores lojas de CD, Tower Records, Virgin Megastore, já se foram. A indústria dos jornais impressos tenta se reinventar. A indústria da publicidade já notou que é tempo de mudança - a propaganda está saindo da TV e indo para a internet e para as redes sociais; alguns textos de blogs já perguntam se a era da propaganda chegou ao fim; o divórcio entre anunciante e consumidor é tema de campanha publicitária da Microsoft.

Mas o que seria a web 3.0 e qual seria o seu impacto sobre a educação?

Eric Schmidt disse que, na web 3.0, os aplicativos funcionarão em conjunto, os dados estarão nas nuvens (clouds), acessados através de computadores, celulares e TVs e todos os programas serão rápidos, customizáveis e disseminados como virais (por redes sociais, emails, ...).

Na educação, Steve Wheeler defende que:
- O auto-didatismo estará em alta, diminuindo a importância e influência de escolas e universidades;
- Graças à tecnologia e aos aparelhos móveis, as pessoas estarão conectadas a redes sociais em tempo integral, o que significa que poderão pensar coletivamente e consultar especialistas antes de optar ou opinar;
- O processo de aprendizagem verdadeiramente colaborativo será possível em todos os contextos, com o auxílio de blogs, wikis, redes e novas funções, como RT, DM e # do Twitter;
- A visualização 3D e versões multi-toque serão mais disponíveis.

Ulrich Schrader respondeu ao texto do Steve dizendo que acredita que isso possa ocorrer, mas não se sabe se as pessoas estarão aptas a, ou desejarão utilizar essas novas ferramentas.  Ulrich acha que haverá mais uma divisão entre aqueles que querem colaborar e utilizar a tecnologia móvel, etc, pra aprender, e aqueles que consideram que aprender é um trabalho árduo que interfere com seu tempo de lazer. A web 3.0 necessitará de um novo tipo de postura mental, no qual as pessoas são curiosas, querem aprender, colaborar e mudar e apreciam o pensamento individual. Essa postura mental deverá ser desenvolvida pelas escolas, pelos pais e pela sociedade, mas Ulrich acha que é uma tarefa bem complicada. Em outras palavras, enquanto poucos estarão utilizando a web 3.0 (talvez 10%), a maioria da população ainda estará com a 1.0.

Manish Malik também respondeu o texto de Steve. Manish acha que o uso educacional da web 3.0 possibilitará aos alunos ler/escrever/colaborar e ter as informações apresentadas de uma forma mais significativa. Os alunos poderão personalizar (customizar) as informações para que elas sejam mais apropriadas aos seus interesses - a web será utilizada para customizar as informações em estilos de aprendizagem diferentes.

Um resumo de tudo isso seria: através da web semântica, o processo de aprendência acontecerá de forma colaborativa para a customização da informação de acordo com a necessidade ou estilo de cada indivíduo. No entanto, isso dependerá da vontade e preparo daqueles que mandam e usam os sistemas educacionais.

Há evidências de que caso essa seja de fato a realidade no futuro, os alunos aprenderão muito mais rapidamente. Essas evidências têm sido apresentadas principalmente pela teoria da"collaboration curve" - curva da colaboração. Esse artigo, da The Edurati, dá uma explicação breve. Os autores dessa teoria explicam, primeiro, como uma máquina de fax sozinha é quase inútil. O valor dela cresce bastante à medida que mais máquinas de fax são acrescidas à rede. Os teóricos sugerem, então, que se as máquinas "melhoraram suas performances" quando mais unidades são acrescidas à rede, isso não resultaria somente em um efeito melhor de performance em um primeiro nível, mas também traria um segundo efeito amplificador. "Os saltos em performance descrevem a forma e o poder da curva colaborativa ... e explicam porque todos nós trabalhamos, jogamos ou aprendemos melhor quando estamos em grupo."

Traduzindo isso para o contexto educacional: se um aluno sozinho aprende de acordo com um certo estilo e em uma certa velocidade, sua performance melhorará a cada novo aluno que fizer parte de "sua rede de trabalho", o que não só aumentará a performance da rede coletivamente, mas também a performance do aluno individualmente. Essa teoria parece suportar a tese de cocerebralização que o professor Antônio Carlos explicou no texto passado. Será???

Para fechar o assunto (e esse texto, que já está grande demais), deixo-lhes uma última evidência. Na semana passada, a KnowledgeWorks Foundation publicou sua segunda previsão para o futuro, 2020 Forecast: Creating the Future of Learning (Previsão para 2020: A Criação do Futuro da Aprendizagem). A previsão enfatiza o quanto nós estamos mudando em direção a uma cultura mais criativa em que cada um tem a oportunidade (e a responsabilidade) de moldar um futuro coletivo. Estamos testemunhando a re-criação da esfera pública, da manufatura e da produção. Os novos criadores demonstram a importância da cooperação e da inteligência cros-cultural para a cidadania e para a economia. Será que Marx chegou a pensar que isso aconteceria?

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