"A
nossa política educacional baseia-se em duas enormes falácias. A
primeira é a que considera o intelecto como uma caixa habitada por
ideias autónomas, cujos números podem aumentar-se pelo simples processo
de abrir a tampa da caixa e introduzir-lhes novas ideias. A segunda
falácia, é que, todas as mentes são semelhantes e podem lucrar como o
mesmo sistema de ensino." - Aldous Huxley, in "Sobre a Democracia e Outros Estudos"
Ao
invés de comprar um LP, uma fita, um CD, DVD, ou mesmo um Blu-Ray, é
mais fácil baixar a música ou o filme direto da página da banda ou do
filme. Ao invés de procurar um professor particular de francês aqui no
Rio, eu posso ter aulas pelo Skype com um professor que mora em Paris.
Posso também aprender a fazer comida italiana com um alemão que mora na
China. Pela internet, posso comprar produtos ou serviços diretamente de
quem cria e faz - um artesanato, um quadro, um livro...
Esse
encurtamento do caminho entre quem faz e quem consome tende a se
intensificar. Os atravessadores estão desaparecendo já que os meios de
produção e o caminho aos clientes estão sendo democratizados pela
tecnologia. As maiores lojas de CD, Tower Records, Virgin Megastore, já
se foram. A indústria dos jornais impressos tenta se reinventar. A
indústria da publicidade já notou que é tempo de mudança - a propaganda
está saindo da TV e indo para a internet e para as redes sociais; alguns textos de blogs já perguntam se a era da propaganda chegou ao fim; o divórcio entre anunciante e consumidor é tema de campanha publicitária da Microsoft.
Mas o que seria a web 3.0 e qual seria o seu impacto sobre a educação?
Eric Schmidt disse
que, na web 3.0, os aplicativos funcionarão em conjunto, os dados
estarão nas nuvens (clouds), acessados através de computadores,
celulares e TVs e todos os programas serão rápidos, customizáveis e
disseminados como virais (por redes sociais, emails, ...).
Na educação, Steve Wheeler defende que:
- O auto-didatismo estará em alta, diminuindo a importância e influência de escolas e universidades;
-
Graças à tecnologia e aos aparelhos móveis, as pessoas estarão
conectadas a redes sociais em tempo integral, o que significa que
poderão pensar coletivamente e consultar especialistas antes de optar ou
opinar;
- O processo de aprendizagem verdadeiramente
colaborativo será possível em todos os contextos, com o auxílio de
blogs, wikis, redes e novas funções, como RT, DM e # do Twitter;
- A visualização 3D e versões multi-toque serão mais disponíveis.
Ulrich Schrader respondeu ao
texto do Steve dizendo que acredita que isso possa ocorrer, mas não se
sabe se as pessoas estarão aptas a, ou desejarão utilizar essas novas
ferramentas. Ulrich acha que haverá mais uma divisão entre aqueles que
querem colaborar e utilizar a tecnologia móvel, etc, pra aprender, e
aqueles que consideram que aprender é um trabalho árduo que interfere
com seu tempo de lazer. A web 3.0 necessitará de um novo tipo de postura
mental, no qual as pessoas são curiosas, querem aprender, colaborar e
mudar e apreciam o pensamento individual. Essa postura mental deverá ser
desenvolvida pelas escolas, pelos pais e pela sociedade, mas Ulrich
acha que é uma tarefa bem complicada. Em outras palavras, enquanto
poucos estarão utilizando a web 3.0 (talvez 10%), a maioria da população
ainda estará com a 1.0.
Manish Malik também respondeu o
texto de Steve. Manish acha que o uso educacional da web 3.0
possibilitará aos alunos ler/escrever/colaborar e ter as informações
apresentadas de uma forma mais significativa. Os alunos poderão
personalizar (customizar) as informações para que elas sejam mais
apropriadas aos seus interesses - a web será utilizada para customizar
as informações em estilos de aprendizagem diferentes.
Um
resumo de tudo isso seria: através da web semântica, o processo de
aprendência acontecerá de forma colaborativa para a customização da
informação de acordo com a necessidade ou estilo de cada indivíduo. No
entanto, isso dependerá da vontade e preparo daqueles que mandam e usam
os sistemas educacionais.
Há evidências de que
caso essa seja de fato a realidade no futuro, os alunos aprenderão muito
mais rapidamente. Essas evidências têm sido apresentadas principalmente
pela teoria da"collaboration curve" - curva da colaboração. Esse artigo, da The Edurati,
dá uma explicação breve. Os autores dessa teoria explicam, primeiro,
como uma máquina de fax sozinha é quase inútil. O valor dela cresce
bastante à medida que mais máquinas de fax são acrescidas à rede. Os
teóricos sugerem, então, que se as máquinas "melhoraram suas
performances" quando mais unidades são acrescidas à rede, isso não
resultaria somente em um efeito melhor de performance em um primeiro
nível, mas também traria um segundo efeito amplificador. "Os saltos em
performance descrevem a forma e o poder da curva colaborativa ... e
explicam porque todos nós trabalhamos, jogamos ou aprendemos melhor
quando estamos em grupo."
Traduzindo isso
para o contexto educacional: se um aluno sozinho aprende de acordo com
um certo estilo e em uma certa velocidade, sua performance melhorará a
cada novo aluno que fizer parte de "sua rede de trabalho", o que não só
aumentará a performance da rede coletivamente, mas também a performance
do aluno individualmente. Essa teoria parece suportar a tese de cocerebralização que o professor Antônio Carlos explicou no texto passado. Será???
Para fechar o assunto (e esse texto, que já está grande demais), deixo-lhes uma última evidência. Na semana passada, a KnowledgeWorks Foundation publicou sua segunda previsão para o futuro, 2020 Forecast: Creating the Future of Learning (Previsão
para 2020: A Criação do Futuro da Aprendizagem). A previsão enfatiza o
quanto nós estamos mudando em direção a uma cultura mais criativa em que
cada um tem a oportunidade (e a responsabilidade) de moldar um futuro
coletivo. Estamos testemunhando a re-criação da esfera pública, da
manufatura e da produção. Os novos criadores demonstram a importância da
cooperação e da inteligência cros-cultural para a cidadania e para a
economia. Será que Marx chegou a pensar que isso aconteceria?
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