Em uma conversa informal com um amigo pesquisador da diáspora africana no mundo atlântico, lembro-me de ter desabafado o choque que senti ao ver o desinteresse dos estudantes ao abordar na aula a chegada forçada de africanos ao Brasil. Na minha visão de professora de História, a diáspora africana é sem dúvida um dos assuntos mais tristes, porém interessantes da História Brasileira. Hoje compreendo que o desinteresse talvez não fosse pelo assunto propriamente dito, mas sim da abordagem pouco estimulante de uma aula expositiva. Bem, Machado de Assis tem um conto em que trata da escravidão de uma maneira ímpar, o conto Pai Contra Mãe. A reportagem deste mês da revista Unesp Ciência trata de uma pesquisa desenvolvida pelo pesquisador Vitor Caparica que resolveu adaptar as estratégias dos jogos de RPG para despertar em alunos do ensino médio o interesse por Machado de Assis. “Como no RPG todos os personagens são heróis, a figura do protagonista foi diluída em cinco ou seis personagens. No caso de 'Pai Contra Mãe', por exemplo, em vez de apenas uma pessoa – o protagonista Candinho –, foi ‘enviada’ uma equipe para encontrar a escrava fugida. Os mestres descreviam as situações que o grupo enfrentaria – como as dificuldades financeiras da família de Candinho e a recompensa que o aguardaria caso ele capturasse a escrava –, e os jogadores tomavam suas decisões.” Se ao final da pesquisa Vitor conseguiu incentivar a leitura de contos de Machado de Assis, será que se uníssemos o RPG com as aulas História não despertaríamos a vontade de compreender as contradições do Brasil escravista?
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