Adorei o texto de Silvio Meira postado em seu blog. Não somos obrigados, claro, a concordar com tudo. Mas a maneira como os profissionais de outras áreas pensam a educação é muito instigante.
27.04.11
A série do blog sobre educação empreendedora está quase no fim e todos os textos já publicados até aqui estão neste link. A qualquer momento vai aparecer um pequeno conjunto de textos seguido de números [como 1, 2…] que vão encerrar a coisa de vez. por enquanto, pelo menos, já que está em andamento um processo pra transformar o conjunto de posts daqui em um volume organizado, ordenado, com o mesmo nome. Quero ver no que vai dar.
Hoje vamos tratar de dois textos que apareceram recentemente em veículos respeitados da “imprensa” mundial. O primeiro, the economist, publicou um texto no 13 de abril questionando se educação superior não seria a “bolha da vez”.
Explicando, a matéria cita Peter Thiel, fundador de PayPal, dizendo que o ensino superior [pelo menos americano e europeu] passa por todos os crivos que caracterizam uma bolha: 1. Custa caro. lá, custa caro aos alunos e seus pais; aqui, mesmo que tem bolsa federal pode gastar duas vezes o tempo normal do curso para terminá-lo. Como são os contribuintes que pagam a conta, no fim das contas, não sei exatamente que tipo de incentivo é este, mas vamos em frente; 2. O custo da dívida contraída para estudar é alto. Lá, certamente que é; aqui, parece ser em tempo perdido, pois há muita gente fazendo cursos para os quais não há trabalho e esquecendo os cursos para os quais há trabalho, mas não há preparo para fazê-los, como os das áreas de exatas e engenharias. De novo, vamos em frente; 3. As taxas de retorno sobre o investimento em tempo e recursos investidos em estudo não parecem remunerar o esforço. De novo, lá, onde há uma base bem acima da média de formação nos níveis anteriores à universidade, onde quase todos têm que pagar contas pesadas e quase nunca estudar enquanto moram na casa dos pais. De novo, o contrário daqui.
Usando uma ótica brasileira, seria possível concluir que vivemos uma “bolha” educacional? De forma ampla, não; olhando para certos tipos de formação, inclusive em áreas críticas como informática, sim. como assim? Há dezenas de milhares de vagas abertas para quem sabe programar, em todo Brasil. Mas programar mesmo, tipo criar aplicações para celulares android e iPhone e software para rodar sobre a nuvem, na web, nas redes sociais. Para isso falta muita gente. Mas muita gente estuda e estudou informaticommodity, coisas de informática que não levam ao desenvolvimento de sistemas de informação baseados em hardware, software ou nos dois. Essa galera vive uma bolha e não vai ver, talvez nunca, o retorno de seu investimento.
Resumo, até aqui? Se você está estudando alguma coisa que lhe permite ver um retorno sobre seu investimento em uma carreira normal e não numa loteria de concursos públicos [suspensos, por sinal] de 1.000 candidatos por vaga, vá em frente, você não é parte da bolha. Caso contrário, pense bem… você pode estar na “faixa de Thiel”.
Thiel, o fundador de PayPal, resolver “salvar” vinte estudantes americanos da “bolha” do ensino superior de lá, oferecendo bolas de empreendedorismo de US$100.000 para que eles comecem um negócio ao invés de se endividarem para fazer uma universidade que talvez os remunere bem menos ou nunca. Claro que a chance de um ser humano normal passar no “crivo de Thiel” talvez seja menor do que capturar uma vaga numa repartição federal brasileira, mas a idéia de Thiel é provocar muito mais gente de posse a fazer o mesmo e ajudar a criar uma onda empreendedora no mercado americano, deprimido muito mais por falta de empreendedores de sucesso com ideias de classe mundial do que por falta de bons alunos na universidade.
Falando em universidade e sair delas… e chegar de volta, dando a volta por cima… o MIT MEDIA LAB, um dos mais renomados laboratórios do planeta, acabou de indicar como seu diretor executivo ninguém menos do que Joichi Ito, empreendedor [capitalista e social] japonês que não terminou dois cursos de graduação, em física e computação? E o último, em particular, porque achava “estúpido” ter que aprender computação na sala de aula? Bem, a vida dá voltas… E deve haver um monte de gente que achava que deveria ser o próximo diretor de um lab como o do MIT se perguntando o que foi que não fez para chegar lá… Vai ver a resposta é… não viveu, deu voltas, não arriscou, não empreendeu o suficiente para entender como a vida funciona de verdade. Assim como muito professor que nunca professou a profissão da qual deveria servir como exemplo e vive a repetir histórias irrepetíveis, na prática, que leu num e noutro livro aqui e ali.
O que tem dilbert a ver com nossa conversa? Bem, o segundo texto da “grande imprensa”, no Wall Street Journal, é do Scott Adams e se chama how to get a real education, ou como se educar de verdade. Adams começa a conversa chamando todos à realidade:
Se você não está entre os “brilhantes”, ao invés de se dedicar a coisas que não irão lhe levar onde você quer e provavelmente pode ir… por que, ao invés de estudar mecânica quântica… você não aprende a empreender no seu curso superior [e eu adiciono… ou talvez antes]?…
Isso não quer dizer que não vá haver empreendedores entre os mais brilhantes. Sempre haverá. Mas tão poucos que serão estrelas. Só que a vasta maioria dos empreendedores de sucesso tem uma visão de mundo muito diferente de quase todos os grandes cientistas. Procure as histórias e verá que são raros os casos que combinam ambas as capacidades.
Ok… é muito provável que você, até porque não quer se dedicar aos problemas e práticas que levariam ao sucesso científico, como Joi Ito, Steve Jobs e Bill Gates e mais um monte de gente boa, não vai criar nenhuma teoria fundamental para explicar o universo. Que tal empreender? E o que diz Adams, empreendedor [de muito sucesso] de si mesmo?
Sim, e o que diz Adams? Vejamos…
1. Combine habilidades. saber uma coisa, muito bem, é muito, muito menos do que saber várias, bem. Saber várias, bem, implica entender contextos de uso delas e sua combinação, no espaço de problemas onde estão os negócios e as possibilidades de empreendimento.
2. Falhe rápido. Na verdade, a sugestão de Adams é “fail foward”, para a qual falta uma boa tradução em português… mas se houvesse, seria algo como “acelere o processo de falhar”, já que você vai falhar na maioria dos casos, o faça com rapidez e aprenda o que tiver que ser aprendido rapidamente e passe para a próxima… falha. É falhando, ou errando, e na prática, que se aprende.
3. Procure, encontre, faça parte da ação. Conheço uns caras aqui em recife que fingem estar no Silicon Valley. certas horas até falam como se estivessem lá. Mas estão aqui e não sabem nem o que está rolando no porto digital, quanto mais lá. Não vão conseguir usar suas habilidades e falhar rápido nem lá nem cá. e você? Seu negócio é software para a indústria de petróleo? Vá pra perto dela e não fique tentando errar e aprender perto de frigoríficos. Mova-se.
4. Atraia a sorte. Quanto mais você faz, mais trabalha, mais conversa, mais compartilha suas experiências, mais sorte você atrai, porque mais gente passa a se interessar por você. E aí coisas inesperadas [sorte?…] Começam a acontecer. Sorte se cria, não se espera. Por mais fé que você tenha, trabalhe e se conecte; sorte é consequência.
5. Domine o medo. Há alguma forma mais fácil de dizer isso? Não. Mas tenha medo de quem não tem medo. Quem não tem medo não tem limites, não sabe que riscos corre. tenha medo do que tem que ter e trabalhe pra controlar seus medos, seja lá do que for. Você acreditaria se eu lhe dissesse que, depois de quarenta anos [isso, quarenta!…] Eu ainda tenho medo de dar aulas e palestras… E que isso me faz estudar e trabalhar noites a fio, fins de semana inteiros e férias… E que isso se tornou uma vantagem competitiva radical… meu medo?…
6. Aprenda a escrever. No nosso caso, aprenda português e inglês de tal forma que você possa escrever coisas complexas de forma simples e direta quando for preciso. O que pode nem sempre ser o caso, sob certas óticas, aqui no blog; entenda o porque neste link. Mas se você vai empreender, saiba se expressar de forma simples, em discurso e texto, porque a vida não é um grande powerPoint. Finalmente…
7. Seja persuasivo. Descubra que técnicas podem ser usadas para convencer outras pessoas das coisas das quais você está [está?…] Convencido. Não é só chegar e falar, é muito mais complexo do que isso. Sabia que há cursos inteiros só para negociação de pontos de vista ou propostas de negócio? Se ligue. Vá atrás. Eu ainda faço estes cursos até hoje, um deles agora em junho, pois gato velho também aprende pulo novo.
Por último, um recado que Adams não dá em seu texto do WSJ, mas numa tirinha de mais de vinte anos atrás [26/01/1990]. Mesmo que você decida deixar a escola para empreender ou resolva empreender na universidade ou depois, se lembre que algumas idéias de negócio, mesmo umas que parecem muito interessantes à primeira análise e primeira rodada de investimentos, se tornam totalmente idiotas algum tempo depois. Porque o cenário é dinâmico, muda o tempo todo e você, seu negócio, sua ideia e sua capacidade empreendedora deveriam estar mudando junto.
Isso sem falar que algumas ideias para potenciais grandes negócios, são idiotas já no ponto de partida. Com o tempo você aprende a descobrir quais. Isso se você tentar, errar e aprender o suficiente, na prática, ao invés de simplesmente ler sobre empreendedorismo. Vá lá, tente…
Nenhum comentário:
Postar um comentário